sábado, 6 de agosto de 2011

Reflexão Asterix

Uma das bases do humor são os trocadilhos, a começar pelos protagonistas, batizados com os símbolos para notas de rodapé: asterisco (*) e obelisco (†). Para aumentar os trocadilhos, todos os povos têm terminações comuns de nomes: os gauleses terminam em -ix (em possível citação a Vercingetorix) e as gaulesas em -a (Naftalina,Iellousubmarina), os romanos em -us (Acendealus, Apagalus, General Motus), normandos em -af (Batiscafo, Telegrafa), bretões em -ax e -os (Relax,Godseivezekingos), egípcios em -is (Pedibis, Quadradetenis), gregos em -os e -as(Okeibos, Plexiglas), vikings em -sen (Kerosen, Franksen), godos em -ic (Clodoric, Eletric), e hispânicos nomes compostos (Conchampiñon & Champignon,Lindonjonsón & Nixón).

Línguas estrangeiras tem representação diferente:

  • Ibero: Igual ao espanhol, inversão e exclamações ('¡') e interrogações ('¿')
  • Godo: escrita gótica (incompreensível para os gauleses)
  • Viking: Ø e Å no lugar de O e A (incompreensível para os gauleses)
  • Ameríndio: Pictogramas (incompreensível para os gauleses)
  • Egípcio: hieróglifos com notas de rodapé (incompreensível para os gauleses)
  • Grego: letras retas, esculpidas
Religiosidade

Cada povo possui os seus credos e isso é bem evidenciado.

  • Os gauleses veneram Tutatis e Belenos. (Por Tutatis e por Belenos!)
  • Já os romanos sempre rogam graças a Juno, Júpiter, etc. (Por Juno e Júpiter!)

imagem extraída:parafrasefacil.blogspot.com/2008_01_01_archiv...

Piadas recorrentes
  • O bordão de Obelix é "Esses [o nome do povo] são uns loucos", sendo "romanos" o povo mais freqüente.
  • O péssimo canto de Chatotorix (que em livros tardios enerva os deuses e leva à chuva), geralmente impedido por Automatix.
  • Automatix reclamar dos peixes de Ordenalfabetix, iniciando uma briga entre toda a aldeia.
  • Obelix requisitar poção mágica apesar desta ter efeito permanente nele (emA Galera de Obelix, ele acaba por tomá-la com graves consequências).
  • Legionários reclamarem após serem espancados ou fazendo trabalhos tediosos ("alistem-se, diziam eles").
  • A gula de Obelix.
  • Um grupo de piratas (paródia de Barba Ruiva, uma história contemporânea) que ao se encontrar com Asterix e Obelix, geralmente têm seu navio afundado (às vezes, eles até sacrificam o seu próprio barco para evitar a surra dos gauleses).
  • Chatotorix ser amarrado na hora do banquete para que não possa cantar.
Revisionismo (sm. 1 Fil. Doutrina que propõe a revisão das bases de uma teoria, crença etc. 2 Posicionamento intelectual em que se propõe a revisão de antigos valores artísticos e literários [F.: revisão (f. rad. revision-) + -ismo] )

Certas piadas provêm de fatos históricos:

  • Após atravessar o canal da Mancha, Obelix sugere um túnel sob o mesmo canal, e um bretão responde que já planejam construir um;
  • Obelix quebra o nariz da Esfinge;
  • Asterix diz a Cleópatra para apelar aos gauleses para, por exemplo, eles construírem um canal entre os mares Mediterrâneo e Vermelho;
  • Os gregos impedem substâncias que dão força extra nas Olimpíadas;
  • Asterix introduz o chá na Inglaterra (trazido por Panoramix da Hispânia);
  • Os menires de Obelix viram as rochas de Carnac;
  • Muitas vezes a aparição de Brutus alude à sua participação na morte de César.
  • Em "Asterix entre os godos" os godos planejam sadicamente matar o druida; entre uma das idéias ocorre a de ferve-lo em uma panela fechada, que Asterix estranhamente não vê como uma má idéia, visto que foi um francês que inventou a panela de pressão (Marmita de Papin)
  • Ordenalfabetix insiste em vender peixes "frescos" de Lutécia (Paris) em uma tribo que vive a metros do mar.
Animação

Reflexão

Ao pesquisar sobre o Asterix, sendo ilustrador e desenhista, me deparei com uma coisa que me incomoda de mais, os pangarés que avacalham com a arte dos outros, não estou falando de homenagens releitura (porque para fazer isso tem que ser profissional e não “apontador” de lápis) que simplesmente se acham no direito de destruir a imagem de algo, talvez fruto de uma frustação e incapacidade atroz, inveja caberia aqui também e talvez todos os sentimentos mesquinhos de uma alma avarenta possa produzir. É mais fácil destruir que criar.

Depois que lemos sobre Asterix seria plausível avacalhar com essa obra? Pense nos detalhes, nos cenários no cuidado da arte e das histórias.

Desculpa o desabafo mas está na hora de certas “crianças”(essas crianças são os pangarés) crescerem.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

GOSCINNY

Para o fisco francês, Albert Uderzo não é um dos co-autores da banda desenhada Asterix, mas apenas «um ilustrador». E exige que este devolva 203.000 euros ao tesouro gaulês.

'O fisco caiu na cabeça de Uderzo' é o título da notícia do Le Figaro online que dá conta que o homem que com René Goscinny criou a aldeia de irredutíveis gauleses recebeu, no dia 27 de Dezembro, uma nota a exigir a devolução de 203.000 euros. O fisco tinha deixado de o considerar autor dos livros de aventuras, mas apenas um «simples ilustrador», o que alterou a sua situação contributiva.

Uderzo, com 84 anos, sabe que não é o primeiro a sofrer tal 'ataque', baseado em questões técnicas. Mas está indignado: «Ao fim de 51 anos de bons e leais serviços retiram-me o direito de ser autor?», questiona. Acrescenta ainda não ser tanto o aspecto financeiro que o incomoda, diz o Figaro, mas «a brutalidade e falta de respeito com o qual, 51 anos depois da criação de Asterix, o fisco acorda e retira-me o direito de ser o co-autor do meu querido pequeno gaulês. Este é um ultraje que não aceito com a minha idade! Contratei um especialista fiscal e vou bater-me novamente» - Uderzo já tinha sido alvo de três inspecções fiscais, em que saiu vencedor.

O jornal falou com um especialista em direitos de autor que considera a questão «absurda». Diz que «há uma dicotomia entre o direito de autor e o direito fiscal baseada em textos que talvez datem do séc. XIX» e que «considerar que Albert Uderzo não é autor de Asterix não faz qualquer sentido; até parece que um inspector fiscal em Bercy (bairro de Paris onde está sediado o ministério da Finanças) não gosta de BD».

É caso para escrever: já não são os romanos... 'Estes gauleses estão loucos!'


GOSCINNY

Sou uma pessoa que diverte. Em minha opinião, há três espécies de pessoas deste género. Primeira categoria: aquele que se diverte a si próprio. Pode tratar-se de um imbecil ou de um precursor. Segunda categoria: o brincalhão que faz rebentar de riso os seus colegas de escritório, a sua mulher, os que convivem com ele mais de perto. Fora do seu meio, as suas bricadeiras, as suas lindas palavras caem no vazio. Trata-se de um amador. Terceira categoria: o profissional. Ele não conhece o seu público nem quer conhecê-lo. Trabalha esforçadamente com um único fim: divertir as pessoas o mais possível, sem discriminação de idade, de sexo, de nacionalidade. Tanto pior se vos pareço ter um orgulho insensato: eu sou um profissional. E tanto pior se vos decepciono, mas, quando escrevo uma história, não penso nas crianças. Nem, de resto, nos seus pais. O meu público é toda a gente.

Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2005/08/rena_goscinny.html#ixzz1SSmxHCBg

domingo, 3 de julho de 2011

Asterix

Asterix e Obelix invadem o Museu Cluny, na França – Por Andrei Netto




Pense por um instante no símbolo da França. Você deve ter tido em mente cidades como Paris, monumentos como a torre Eiffel, palácios como o Louvre, intelectuais como Rousseau, Descartes, Durkheim, escritores, pintores, heróis nacionais como De Gaulle e Vercingentorix. Pois acrescente outro gaulês em sua seleção: Asterix. Sim, Asterix, o gaulês das ficções em HQ, tornou-se um patrimônio nacional. A prova é que, ao completar 50 anos de idade, o anti-herói baixinho e bigodudo que teme a queda dos céus sobre sua cabeça é centro de atenções da mídia e da opinião pública, merecedor de exibições recordistas de audiência na TV, de um novo livro e de uma exposição inédita noMuseu Nacional da Idade Média, no sítio histórico de Cluny, no coração do país.

A febre em torno de Asterix e Obelix, que se irradia também pela Europa, é, na realidade, uma homenagem aos personagens criados por René Goscinny e Albert Uderzo há meio século. Em outubro de 1959, vinha a público a revista Pilote, que trouxe a primeira história da dupla, dois anos antes de Asterix, o Gaulês, livro que inaugurou a série.

Desde então, as aventuras dos dois gauleses ao lado de mais de 400 antagonistas já renderam desenhos animados, filmes, discos, jogos de videogame e um parque temático, além de 34 livros, traduzidos em 107 línguas - inclusive o latim. O último é L’Aniversaire d’Astérix et Obélix - Le Livre d’Or, que chega às livrarias brasileiras na próxima quarta-feira (O Aniversário de Asterix e Obelix - O Livro de Ouro; Record; tradução de Cláudio Varga). Compêndio de histórias curtas, lançado originalmente em 15 países, com tiragem recorde de 3 milhões de exemplares, dos quais 1,1 milhão só na França, o álbum é fruto de um tributo planejado por Uderzo, 82 anos. "Queria fazer com que todos os personagens que apareceram nos livros pudessem ter voz no aniversário", afirmou, em uma das raras entrevistas que concedeu nos últimos anos.

Além de livros de sucesso, Asterix e Obelix rendem também filas de uma hora de espera, que denunciam o local onde está sendo realizada a mostra Asterix no Museu Cluny. A exposição, confluência inesperada de ficção e realidade, é uma reverência a Asterix, um pavilhão da cultura nacional que invadiu um patrimônio da humanidade.

Protagonista de histórias em quadrinhos, o gaulês ganhou espaço digno da importância que conquistou no imaginário dos franceses: está entre as paredes de pedras milenares do recém-restaurado frigidarium de Cluny, um monumento da história galo-romana situado no marco zero da cidade de Lutétia, como Paris era chamada pelos césares. Nada mais apropriado, já que seus autores sempre buscaram inspiração em relíquias históricas para alimentar suas narrativas. A mostra reúne 30 pranchas originais desenhadas por Uderzo, scripts de Goscinny, além de objetos - como uma Keystone Royal, a máquina usada pelo escritor - que ajudam a esclarecer o processo de criação de dois mestres das histórias em quadrinhos.

A homenagem vem acompanhada de outra exposição, esta realizada nas grades que cercam o sítio de Cluny, nas quais desenhos de Uderzo são comparados a obras-primas da pintura ocidental. Assim, postas lado a lado, estão poses de Asterix, Obelix & companhia, e reproduções de telas como Olympia, de Manet, A Liberdade Guiando o Povo, de Delacroix, A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, e de esculturas como O Pensador, de Rodin, de forma a escancarar a influência da arte erudita na obra do desenhista - ainda que perdure a dúvida sobre a natureza da inspiração, que pode ser tanto compreendida como uma reverência à arte ou uma paródia escrachada dos dois humoristas.
O certo é que a efervescência pública em torno dos 50 anos do personagem e a reflexão intelectual feita em torno da obra de Goscinny e Uderzo abriu os olhos da imprensa, do meio acadêmico e até do político para um fenômeno: na avaliação dos franceses, Asterix é muito mais do que uma HQ que deu certo e vendeu milhões de cópias; é também fruto e origem de fragmentos da história da França _ uma constatação que reforça os laços entre os personagens fictícios e seu público fiel.

"Decidimos reunir Asterix e o Museu de Cluny porque são dois monumentos nacionais", disse ao Estado Emmanuelle Héran, curadora e encarregada da política científica da Reunião de Museus Nacionais (RMN), o órgão que controla os maiores acervos de arte da França. A decisão, afirma, foi tomada pelo reconhecimento de que Asterix se confunde em parte com a história do país.

Até os anos 1950 e 1960, aprendia-se nas escolas da França que Vercingentorix, filho de Celtillos, o líder gaulês, povo celta, na luta contra o invasor romano Júlio César, na Guerra das Gálias, entre 58 e 51 a.C., era o herói fundador da nação francesa. Esse mito, criado no século 19 por autores como Amédée Thierry e por Henri Martin, adotado por Napoleão III e instrumentalizado a partir de então pelo Estado Republicano, é um dos elementos do patriotismo francês. Ele ajuda a explicar, por exemplo, o desejo de revanche após a derrota para a Alemanha unificada na Guerra Franco-Prussiana (1870) - e também a beligerância entre os dois países líderes da Europa Continental, que se confrontariam nas guerras mundiais.

Asterix, por sua vez, é a paródia de Vercingentorix, mas ainda com matizes nacionalistas. "Desde sua primeira página, Asterix traz referências à ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial",explica Emmanuelle Héran, lembrando da Resistence Française. "Em uma época na qual não se falava no colaboracionismo francês, Asterix reforçava a ideia de um povo que luta, que resiste, que é idealista e decente". E esse povo é branco, loiro, tem olhos azuis, é forte e peleador. Asterix reforça o estereótipo que a França tinha - ou tem? - de si mesma: a de um país cujo arquétipo é puro, sem miscigenações. "Nos anos 50 e 60, aprendia-se que os franceses eram os descendentes diretos dos gauleses", lembra a curadora. "Essa visão não era completa e não favorecia a inclusão das ondas de imigrantes que já transformavam os franceses em um povo mestiço."

Reprimendas históricas à parte, o fato é que Asterix conta com a empatia dos franceses e com a simpatia dos estrangeiros. Em todo o mundo, as histórias de Goscinny e Uderzo são sucesso. Dentre os cerca de 400 milhões de exemplares já vendidos, 125 milhões foram parar nas mãos de fãs alemães - os alvos iniciais da ironia dos dois humoristas. As razões do sucesso são diversas, e passam pelo detalhismo de Uderzo, pelas manias perfeccionistas de Goscinny e por um enredo clássico, como a luta entre Davi e Golias, marcado por valores universais (como a oposição entre cosmopolitas, os romanos, e autóctones, os gauleses). Não bastasse, suas histórias fazem alusões à vida corrente, grande parte delas tipicamente francesas: Asterix e sua turma mantêm vivas suas tradições, brigam entre si permanentemente, mas se unem e lutam por seus ideais, reagem aos estrangeiros que ousam desafiá-los, prezam a solidariedade. E, claro, amam um banquete regado a vinho no fim da história.

domingo, 29 de maio de 2011

Asterix numa encruzilhada

DEZEMBRO 29, 2008

RECORTES 15 - CARLOS PESSOA (IN PÚBLICO - ASTERIX NUMA ENCRUZILHADA) E EXPOSIÇÃO NA BEDETECA DE BEJA

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ASTÉRIX NUMA ENCRUZILHADA

29.12.2008, Carlos Pessoa

O herói da banda desenhada mais famoso do mundo mudou de mãos. Uderzo e a filha de Goscinny venderam direitos editoriais à Hachette, e há quem fale no fim de uma época. O futuro do personagem é a grande incógnita.

Os valores da operação não foram divulgados, mas o negócio está feito: a Hachette, primeiro grupo editorial francês, comprou 60 por cento das Éditions Albert René e passa a controlar a exploração do universo Astérix.
Um comunicado da empresa (grupo Lagardère) confirmou que foram adquiridos os 40 por cento da participação de Albert Uderzo, criador e desenhador de Astérix, e os 20 por cento de Anne Goscinny, filha de René Goscinny, o outro criador da série e argumentista até 1977, ano da sua morte. Ficou ainda a saber-se que foi também negociada a aquisição dos direitos de edição, para todo o mundo, dos 24 álbuns de Astérix publicados enquanto Goscinny era vivo. Uderzo e Anne Goscinny conservam os direitos de autoria da obra (50/50 para as histórias com argumentos de Goscinny, 75/25 para as realizadas apenas por Uderzo).
Na prática, a Hachette passa a controlar a totalidade da vertente editorial de Astérix, assim como os direitos derivados (merchandising) associados ao personagem, incluindo o segmento audiovisual.
Esta transacção é o maior negócio editorial do ano no campo da banda desenhada, abrindo perspectivas inteiramente novas para o futuro do pequeno herói gaulês. De um ponto de vista estritamente económico, o que está em causa é gigantesco. Desde a criação da série em 1959 - fará 50 anos em 2009, estando em preparação um ambicioso programa de comemorações - já foram vendidos mais de 325 milhões de álbuns em todo o mundo. Segundo a revista Livres Hebdo, as Éditions Albert René, criadas em 1979 por Uderzo para gerir as operações ligadas à série, atingiram em 2007 um volume de negócios de 11,3 milhões de euros. A isto há que juntar a exploração do Parque Astérix, em França, que tem dado sempre lucro. Por fim, são de referir as rentáveis longas-metragens realizadas com actores reais, cujos níveis de audiência têm batido recordes em França e gerado receitas consideráveis.

Decisão "sensata"

Didier Pasamonik, crítico e chefe de redacção da Agence BD (agência francesa on-line de informação sobre banda desenhada), não se mostra surpreendido com o negócio. A ligação empresarial entre Uderzo e a Hachette já vem de 1998, recorda. Na sequência de um longo pleito judicial com a Dargaud para recuperar os direitos de edição e distribuição dos 24 títulos realizados conjuntamente com Goscinny, Uderzo ganhou o processo. Surpreendentemente, entregou a distribuição à Hachette em vez de a reservar para as Éditions Albert René. A razão, diz Pasamonik, é que "a filha de Goscinny detinha 20 por cento desta empresa e a entrega dos títulos [às Éditions Albert René] poderia romper os equilíbrios entre os detentores dos direitos e os accionistas".
À luz de recentes conflitos com a sua filha única, Sylvie Uderzo, a quem retirou a gestão da empresa há 18 meses, a decisão de Albert Uderzo é considerada "sensata". Didier Pasamonik lembra os 81 anos do desenhador e sublinha a inteligência de "confiar a sua obra a um operador neutro, mas competente e poderoso, que assegurará uma gestão a longo prazo".
Mesmo desdramatizando a importância do negócio ("uma banal questão de transmissão de direitos entre empresas"), Pasamonik defende que ele representa "o fim de uma época, em que os pioneiros da banda desenhada controlavam a gestão dos seus direitos patrimoniais":
"Desde há vários anos, com o desaparecimento dos seus criadores, a maioria das grandes séries que fizeram a glória da banda desenhada franco-belga - Tintin, Blake e Mortimer, Lucky Luke, Schtroumpfs, Marsupilami, Boule & Bill, Achille Talon e Cubitus - é animada por outros talentos que não os seus criadores originais e explorada por grandes grupos editoriais."
Negócio banal ou não, a verdade é que as consequências no panorama editorial e no próprio futuro de Astérix podem ser muito profundas.
O crítico Laurent Mélikian (L'Écho des Savanes) não acredita que as coisas mudem muito para a série. Apesar da idade, Uderzo tem uma "saúde apreciável" e "continua a ser o timoneiro a bordo". E admite que possam surgir "novas iniciativas editoriais à imagem do que a Casterman faz com Tintin ou Corto Maltese":
"Talvez os dirigentes nomeados pela Hachette tentem explorar mais depressa uma solução de publicação electrónica com Astérix. Mas caberá a Uderzo a realização de um novo álbum - se puder - e, provavelmente, confirmar que não haverá novas histórias de Astérix após o seu desaparecimento."

Explorar a personagem

Yves Frémion, crítico e divulgador de BD (Fluide Glacial e Papiers Nickelés), acha que o desenhador já não fará um novo álbum de Astérix. Por isso, "a questão axial é saber se Uderzo e Anne Goscinny aceitaram deixar à Hachette a 'continuação' da BD por outros desenhadores". Os casos conhecidos de Blake e Mortimer ou dos Pieds Nickelés, acrescenta Frémion, não provam a justeza da medida: "Esquece-se que uma obra, incluindo as personagens, exprime a alma do seu ou seus autores e que sem eles ela deixa de existir, mesmo se o personagem é sedutor. Hergé compreendeu-o quando estava vivo e proibiu que Tintin lhe sobrevivesse com outro grafismo."
Neste quadro, Yves Frémion vaticina que "a lógica que vai ser adoptada será fazer entrar mais dinheiro com as diversas explorações das personagens e não a de gerir, de modo artístico, a obra de dois artistas importantes". O problema é que a Hachette é "um dos editores menos 'artísticos' do panorama editorial"; a sua força comercial "é enorme", mas só "tem coleccionado fracassos na banda desenhada, nunca tendo compreendido que, para ter êxito, são precisos serviços comerciais especializados e directores de colecção competentes".
Apesar de tudo isto, o êxito futuro do grupo editorial Hachette parece tudo menos incerto. "Gerir direitos de autores que vendem muito depois da sua morte tornou-se um comércio tão sumarento como vender armas aos ditadores", comenta Frémion. "O episódio Hachette-Albert René é o último avatar dessa conquista de mercados pela empresa de Jean-Luc Lagardère."
A leitura de Laurent Mélikian vai no mesmo sentido. "Até há pouco tempo a Hachette quase não estava presente na edição de banda desenhada, se excluirmos o fundo Astérix. Há alguns meses comprou a Pika, uma editora especializada em banda desenhada japonesa. Agora adquiriu as Éditions Albert René. Que outras iniciativas virão a seguir?"

domingo, 22 de maio de 2011

merchandising dos personagem asterix

Astérix e Obélix não páram - Aventuras
dos heróis gauleses vão continuar no ano
que completam o 50º aniversário
Albert Uderzo decidiu ceder ao grupo Hachette, número um da edição em França, a
autorização para continuar as aventuras de Astérix depois da sua morte.
A decisão foi revelada no fim de semana pelas Éditions Albert René, empresa criada por Uderzo
e pela filha de René Goscinny, co-criador de Astérix e seu argumentista, após a morte deste
último, em 1977.
?É óptimo para Astérix?, disse Anne Goscinny à AFP, citada pelo publico.pt lembrando que o
herói é um ?notável sobrevivente? que seguiu o seu caminho após a morte do argumentista.
Isabelle Magnac, directora de Hachette Illustré, comentou por seu lado que ?nada se opunha
contratualmente? à prossecução da série. No entanto, acrescentaria que ?de momento, Astérix
era Albert Uderzo?, o que sugere que nunca seria tomada qualquer decisão quanto ao futuro do
herói gaulês sem a concordância do seu criador e continuador.
A decisão dos dois detentores dos direitos de autor de Astérix põe termo às especulações quanto
ao futuro da série após a aquisição, no final de 2008, de 60 por cento da Albert René (40 por
cento de Uderzo e 20 por cento de Anne Goscinny; os restantes 40 por cento são detidos pela
filha de Uderzo, Sylvie, que se opõe ao negócio) por parte da Hachette, que passou a controlar a
totalidade da vertente editorial de Astérix, assim como os direitos derivados (merchandising)
associados ao personagem, incluindo o segmento audiovisual.
Estas movimentações ocorrem no início de um ano em que se celebrará o 50º aniversário do
herói (surgiu pela primeira vez na revista Pilote a 29 de Outubro de 1959). Está a ser elaborado
um ambicioso programa de comemorações que culminarão no lançamento, em 22 de Outubro,
de mais um álbum de Astérix que reunirá histórias curtas nas quais Uderzo trabalha
actualmente, revelaram as Éditions Albert René.
MAIOR NEGÓCIO DE 2008
A venda da editora ao grupo Hachette, consumada em Dezembro, foi o maior negócio editorial
do ano passado no campo da BD, abrindo perspectivas inteiramente novas para o futuro do
pequeno herói gaulês. De um ponto de vista estritamente económico, o que está em causa é
gigantesco. Desde a criação da série já foram vendidos mais de 325 milhões de álbuns em
todo o mundo. Segundo Livres Hebdo, as Editions Albert René, criadas em 1979 por Uderzo
para gerir as operações ligadas à série, atingiram em 2007 um volume de negócios de 11,3
milhões de euros. A isto há que juntar a exploração do Parque Astérix, em França, que tem
dado sempre lucro. Por fim, são de referir as rentáveis longas-metragens realizadas com actores
reais, cujos níveis de audiência têm batido recordes em França e gerado receitas
consideráveis.
Esta operação não surpreendeu Didier Pasamonik, crítico e chefe de redacção da Agence BD
(agência francesa on-line de informação sobre banda desenhada). A ligação empresarial entre
Uderzo e a Hachette já vem de 1998, recorda. Na sequência de um longo pleito judicial com a
Dargaud para recuperar os direitos de edição e distribuição dos 24 títulos realizados
conjuntamente com Goscinny, Uderzo ganhou o processo.
Contra todas as previsões, entregou a distribuição à Hachette em vez de a reservar para as
Éditions Albert René. A razão, diz Pasamonik, é que ?a filha de Goscinny detinha 20 por cento
desta empresa e a entrega dos títulos (às Editions Albert René) poderia romper os equilíbrios
http://maputo.co.mz/Sociedade/Noticias/Asterix-e-Obelix-n... 1 de 2entre os detentores dos direitos e os accionistas?.
À luz de recentes conflitos com a sua filha única, a quem retirou a gestão da empresa há 18
meses, a decisão de Uderzo vender a editora à Hachette é considerada ?sensata?. Didier
Pasamonik lembra os 81 anos do desenhador e sublinha a inteligência de ?confiar a sua obra a
um operador neutro, mas competente e poderoso, que assegurará uma gestão a longo prazo?.
Possivelmente foi isto mesmo que pesou na decisão do desenhador, embora Anne Goscinny
tenha dito hoje à AFP que ?no início, Albert (Uderzo) estava reticente?, enquanto ela própria
?era favorável?.
EXPLORAR A PERSONAGEM
Mesmo desdramatizando a importância do negócio (?uma banal questão de transmissão de
direitos entre empresas?), Pasamonik defende que ele representa ?o fim de uma época, em que
os pioneiros da banda desenhada controlavam a gestão dos seus direitos patrimoniais?: ?Desde
há vários anos, com o desaparecimento dos seus criadores, a maioria das grandes séries que
fizeram a glória da banda desenhada franco-belga ? Tintin, Blake e Mortimer, Lucky Luke,
Schtroumpfs, Marsupilami, Boule e Bill, Achille Talon e Cubitus ? são animados por outros
talentos que não os seus criadores originais e explorados por grandes grupos editoriais.?
Negócio banal ou não, a verdade é que as consequências no panorama editorial e no próprio
futuro de Astérix podem ser muito profundas.
O crítico Laurent Mélikian (L?Écho des Savanes) não acredita que as coisas mudem muito para
a série. Apesar da idade, Uderzo tem uma ?saúde apreciável? e ?continua a ser o timoneiro a
bordo?. E admite que possam surgir ?novas iniciativas editoriais à imagem do que a Casterman
faz com Tintin ou Corto Maltese?.
Yves Frémion, crítico e divulgador de BD (Fluide Glacial e Papiers Nickelés) disse no final de
Dezembro ao P2 que não acreditava que o desenhador fizesse um novo álbum de Astérix. Por
isso, acrescentava, ?a questão axial é saber se Uderzo e Anne Goscinny aceitaram deixar à
Hachette a ?continuação? da BD por outros desenhadores?.
Frémion lembrava os casos conhecidos de Blake e Mortimer ou dos Pieds Nickelés: ?Esquecese que uma obra, incluindo as personagens, exprime a alma do seu ou seus autores e que sem
eles ela deixa de existir, mesmo se o personagem é sedutor. Hergé compreendeu-o quando
estava vivo e proibiu que Tintin lhe sobrevivesse com outro grafismo.?
Neste quadro, Yves Frémion vaticinava que ?a lógica que vai ser adoptada será fazer entrar
mais dinheiro com as diversas explorações das personagens e não a de gerir, de modo artístico,
a obra de dois artistas importantes?.
Para o grupo editorial Hachette, o futuro parece tudo menos incerto. ?Gerir direitos de autores
que vendem muito depois da sua morte tornou-se um comércio tão sumarento como vender
armas aos ditadores?, comenta Frémion. ?O episódio Hachette-Albert René é o último avatar
dessa conquista de mercados pela empresa de Jean-Luc Lagardère.?
A leitura de Laurent Mélikian vai no mesmo sentido. ?Até há pouco tempo a Hachette quase
não estava presente na edição de banda desenhada, se excluirmos o fundo Astérix. Há alguns
meses comprou a Pika, uma editora especializada em banda desenhada japonesa. Agora
adquiriu as Éditions Albert René. Que outras iniciativas virão a seguir??.
Fonte: Noticias
http://maputo.co.mz/Sociedade/Noticias/Asterix-e-Obelix-n... 2 de 2

Filha de urdezo processa o pai

Asterix em pé de guerra: Filha do desenhista Uderzo processa o pai, que a excluiu dos negócios

Plantão | Publicada em 04/05/2011 às 00h20m

Álvaro Pons, do El País
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Asterix / Divulgação

RIO - Depois de anos de guerra feroz, tudo indicava que a paz tinha chegado à família Uderzo. A batalha legal detonada por Sylvie Uderzo contra seu pai, o desenhista Albert Uderzo, cocriador de Asterix com o roteirista René Goscinny, parecia ter terminado com a decisão da venda de 40% das ações da editora Albert-René, atual proprietária dos direitos sobre o famoso gaulês irredutível, ao grupo Hachette, que voltaria a ser o editor das famosas e lucrativas aventuras do personagem.

O conflito começou em 2007, quando Uderzo retirou a filha da direção da Albert-René, editora criada por ele em 1979 para gerir as edições e o marketing de Asterix, uma empreitada que uma década depois tornou-se propriedade integral dele e da filha de Goscinny (o roteirista morreu em 1977), depois de uma longa luta jurídica com outra editora, a Dargaud.

Esse esforço mostrou que o desenhista era tão bom com o lápis quanto sagaz nos negócios: Asterix se tornou uma máquina de fazer dinheiro, não apenas pelos mais de 300 milhões de livros vendidos da série (cada lançamento é um acontecimento editorial na França), mas também pelos enormes lucros do uso comercial do personagem, que envolve desde todo tipo de licenciamento até um lucrativo parque temático, além, é claro, das adaptações para o cinema, que em outubro chegam ao quarto episódio, "Asterix: God save Britania", dirigido por Laurent Tirard. É um negócio espetacular, cujo faturamento se avalia em mais de 10 milhões por ano, e que parece justificar a briga entre pai e filha, mergulhados em uma troca contínua de acusações mútuas de manipulação: enquanto Sylvie culpava o entorno do pai de separá-lo dela e lhe dar maus conselhos, ele concentrava sua carga nas ambições do marido da filha, Bernard de Choisy.

E as reviravoltas não param: por um lado, o acordo entre Uderzo e o grupo Hachette, que devolvia a gestão do personagem à editora que o viu nascer; por outro, o inesperado anúncio do desenhista de que ele permitiria que outros autores continuassem a escrever as aventuras do personagem após sua morte, uma postura contrária àquela que ele sempre tinha sustentado.

Embora a primeira batalha tenha sido vencida por Sylvie Uderzo, que achava sua demissão improcedente e conseguiu uma indenização de 270 mil, as mudanças na administração dos direitos das obras pareciam inevitáveis, já que a venda da parte de Uderzo à gigante Hachette parecia encerrar de vez a disputa familiar.

'Uma decisão dolorosa'

Mas Albert Uderzo não descansa. Aos 84 anos, ele não consegue se aposentar, como gostaria. Há apenas dois meses, o fisco francês lhe cobrava mais de 200 mil, o que não lhe doeu tanto no bolso quanto na alma: ele não foi reconhecido como cocriador de Asterix, mas apenas como "ilustrador" da série, que seria de autoria apenas de René Goscinny. Uma decepção para o autor, que vem se somar à reabertura da disputa judicial com a filha, que acaba de apresentar uma queixa "contra quem corresponder" (uma forma legal francesa de não precisar a pessoa a quem se dirige a acusação) pelos supostos abuso e manipulação de seu pai, que estaria incapacitado.

Em declarações ao jornal "Le Parisien", Sylvie afirma que o pai estaá sendo isolado por diferentes pessoas a seu redor, desde seu antigo encanador, promovido a homem de confiança, a alguns diretores da editora Albert-René, que o haviam levado a tomar todas as decisões empresariais contra ela e a uma fúria consumista que incluiria da compra de mansões faraônicas a um avião Mirage III. "É uma decisão dolorosa", disse Sylvie. "Mas quero que a Justiça reconheça que meus pais foram vítimas de aproveitadores, que saquearam e destroçaram uma família."

Acusações duras que se somam a uma turva saga familiar que sempre parece escondida sob um negócio de milhões e milhões de euros.



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